REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO INTEGRAL...

REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO INTEGRAL E ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL (RESUMO)

Marlon Santos de Oliveira Brito

Apresentação

Este trabalho é resumo do artigo de mesmo nome, de Antônio Sérgio Gonçalves, publicado no “Caderno Cenpec” nº 2, sobre Educação Integral, no segundo semestre de 2006. O texto original e seus resumos serão utilizados durante o II Encontro com Educadores e as Associações Comunidades Escolas, da cidade de Palmas – TO, como eixo norteador de debates e reflexões.

O autor do resumo é professor de Filosofia e Ensino Religioso, membro da Equipe da Escola de Tempo Integral Aprígio Thomaz de Matos __ uma das escolas rurais do sistema municipal de ensino, localizada na TO-010, Km 18, Fazenda Consolação; espera contribuir com a discussão do tema Educação Integral que se amplia progressivamente nos sistemas de ensino do Brasil afora.

Introdução

Repensar a escola se constitui em um imperativo de complexas relações. E entre os diversos temas a educação integral tem ocupado importante espaço desde a implantação dos CIEPs - Centros Integrados de Educação Pública, no Rio de Janeiro, em 1980. Firmados na corrente pedagógica escolanovista com a valorização da atividade ou experiência em sua prática cotidiana.

Essa reflexão é oportuna devido à existência de programas na rede pública que implantaram em diversos municípios e estados a jornada ampliada, com oferta de atividades educativas diversas, articuladas à otimização do espaço escolar e dos demais espaços públicos. Obedecendo ao artigo 34 da LDB (9.394/96) que prevê a progressiva ampliação do período de permanência na escola no ensino fundamental.

A formulação de escolas de tempo integral gerou um intenso debate questionando o caráter populista, a inviabilidade e a intenção de confinamento dos alunos. Porém, críticas a parte, as escolas criadas desde Anísio Teixeira são defendidas por seus ex-alunos. Não são vistas como locais de confinamento, ao contrário, são aberturas para uma vida melhor.

Concepção de Educação Integral

Considera o aluno como sujeito de condição multidimensional, além das dimensões cognitivas e biopsicossociais. Inserido num contexto social de relações. Desejante de necessidades básicas, como também de satisfação simbólica, de criação e de prazer nas mais variadas formas. Respeita o aprender ao longo da vida em diferentes contextos: na família, com os pares, na escola; em espaços formais e informais.

Isso não significa trabalhar apenas com o que os alunos querem aprender; mas de forma que o ensino seja desafiador para educandos e educadores, e possa se transformar numa relação profícua de ensino e aprendizagem. O aprender acontece se for estabelecida uma relação entre o particular e o geral, entre o local e o global, entre o que define como sujeito e o mundo que o rodeia.

Tempo, espaço e educação escolar

Escola de tempo integral implica considerar a questão da variável tempo e da variável espaço. Em síntese, o espaço e o tempo escolares também educam. É ir além da extensão do tempo para o desenvolvimento das aprendizagens, considerando, prioritariamente, outros espaços educativos existentes além da escola. O que permeia e qualifica tais discussões é a concepção de educação integral em outros espaços públicos de aprendizagem, governamentais e não-governamentais.

Educação integral como direito à aprendizagem

O horário expandido da escola integral representa uma ampliação de oportunidades e situações que promovam aprendizagens significativas e emancipadoras. Diversos autores apontam conquistas que merecem atenção, como, por exemplo, a preocupação de oferecer às camadas populares condições de aprendizagem, de enriquecimento cultural e de engajamento na luta por mudança social.

As classes média e alta têm seus meios de proporcionar uma educação ampliada a seus filhos. Os estabelecimentos privados oferecem jornada expandida. Muitas famílias fazem investimentos educativos, com atividades de aprendizagem, curso de idiomas, atividades físicas, esportes, cursos artísticos, etc.

Mas, as instituições de ensino privado caracterizam a educação como mercadoria, e ela perde seu significado como direito assegurado constitucionalmente. A educação integral, em termo de política pública de educação, incorpora a idéia de maior oportunidade independente da lógica perversa de mercado.

Em uma perspectiva crítico-emancipadora, ela possibilita as classes subalternas a apropriação do saber sistemático, ao passo que o saber acaba levando ao questionamento das relações sociais. Vai além do quantitativo número maior de horas, e chega ao qualitativo, de que essas horas somadas a todo o período escolar são uma oportunidade em que conteúdos propostos possam ser ressignificados.

No tocante às relações no ambiente escolar, estas merecem se repensadas e reformuladas. O que implica esforço e desejo coletivo, de todos da instituição. Pensando hipoteticamente, uma escola de tempo integral onde os alunos não se vejam motivados e não tenham qualquer prazer em estudar ali, não está cumprindo com sua função social.

A construção de um tempo espaço democráticos

É certo que uma escola deve apresentar condições adequadas, tanto físicas como organizacionais. Mas, esse não é o objetivo desse trabalho. Busca-se refletir sobre a relação existente entre dirigentes, professores, educandos e familiares. Que cada um tenha voz própria e um canal de expressão de suas necessidades, opiniões e sugestões, sobre o espaço comum a todos.

E o que é comum a todos é, na realidade, o espaço que promove aprendizagens significativas, não para a vida futura e adulta dos alunos e sim para a vida que é vivida no aqui e agora do ambiente escolar.

Democratizar as relações existentes na escola pressupõe o aprendizado de um currículo que considere as relações existentes e a participação de todos. Esse currículo propiciará a formação de sujeitos críticos, autônomos e com competências necessárias para participar coletivamente de uma sociedade democrática.

Na escola de tempo integral os espaços e tempos devem criar situações e oportunidades para o desenvolvimento das competências no campo lingüístico-argumentativo. Com uma organização que promova a concepção de um sistema em que os recursos oferecidos, sejam moldados, para darem conta de responder a uma determinada oferta de serviços.

A eficácia de aulas criativas e prazerosas

A garantia de acesso não é suficiente para que a escola cumpra sua função social. É preciso avançar, seja no modo como uma sala de aula pode ser disposta, ou na exploração de espaços existentes na escola e mesmo fora dela. Considerar atividades extra-escola, extra-classe e aulas em sala, como um todo, como um projeto pedagógico prazeroso. Quando aprendemos de modo prazeroso, esses aprendizados se tornam muito mais significativos.

Uma aula-atividade em um ambiente diferente propicia um novo olhar sobre as relações. E os conflitos que acontecem não desqualificam a atividade, ao contrário, enriquecem-na, desenvolvendo competências diversas. Pois, no cotidiano, as relações passam por conflitos de interesses, opiniões, e o exercício é aprendermos a administrá-los democraticamente.

Conclusão

Falar em educação integral compreende a formulação de questões relevantes e atuais, para além dos slogans educativos. Abordar a educação integral implica um compromisso com a educação pública que extrapole interesses políticos. Propiciando às crianças e jovens conhecer o mundo em que vivem e compreender as suas contradições.

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